ONTEM E HOJE
Sérgio Godoy
Hoje
o sol brilha e, naturalmente a água
dos canais reflete ou - promete – um
verão quente como foi no ano passado.
Bares lotados, músicos de rua,
grupos de latinos vendendo colares de
semente na insípida Ledseplein
e ciclistas que passam apressados. A
vantagem em ter um pronunciamento do
verão é que os holandeses
voltaram a sorrir. Pois é, momento
paradisíaco nessa cidade: aproveitem,
porque não dura muito!
Estico
minhas pernas na varanda
de casa prometendo a mim mesmo não
pensar nas praias de Ubatuba. Abro meu
livro e a concentração é pouca,
minguando ao virar das páginas.
Ouço os pássaros que brincam,
debatem-se em furor nas árvores
dos pequenos jardins que separam os dois
blocos de apartamentos. Um bando de papagaios
originários da Índia que misteriosamente
proliferaram no Vondelpark, expandiram
fronteiras e chegaram até aqui
com suas asas verdes e bicos amarelos.
De repente, tudo fica muito tropical!
O vizinho do térreo que instalou
uma ridícula fonte com pedras
coloridas e uma pequena piscina com rãs,
insiste em pregar algo no muro. Estico
meu pescoço do terceiro andar
e vejo que ele pretende decorar o muro
com um vaso de terracota. Típico,
penso eu!
E
a macieira que se abre em flores
brancas no jardim de outra vizinha
contrasta contra a cor preferida
de sua proprietária:
tudo é cor-de-rosa; a cortina,
a mesa de plástico, os potes de
plantas e a roupa da filha que brinca
no gramado com brinquedos da mesma cor.
Ontem
senti-me como o saudosista ET apontando algum
ponto em direção ao Mar
Atlântico. Hoje imensa tranqüilidade
desenha linhas em meus pensamentos.
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