O ESPELHO TURVO DE SUA VERDADE
Sérgio Godoy
Outro dia um amigo e eu concluímos que o mundo inteiro arregalou-se com pouca vergonha no horror do conservadorismo. Se isso assusta, assusta! É só olhar para todos os lados, abrir o jornal ou acompanhar os noticiários na televisão, que o soco conservador chega em cheio na sua cara. São políticos e líderes religiosos, miséria e seus resultados. Enquanto a Europa luta contra a grande invasão de imigrantes, cada um tentando colocar o pé na “terra santa” e safar-se de algum horror, outros continentes expõem a degradação humana sem pudores. A Holanda não é exceção; abre-se com sorrisos largos aos amigos americanos e beija o pé da Grã-Bretanha na busca do reconhecimento de uma política de igualdade. Tenta dividir-se com seus vizinhos europeus onde o “sorriso é amarelo” e colhe o fruto plantado de um passado, que só hoje, pode-se constatar o quanto fôra irregular.
Se cada um de nós, como indivíduo dentro da sociedade em que vivemos, tentamos preservar nosso direito de liberdade e livre escolha, também corremos o risco de uma grande aniquilação por defender o que somos ou aquilo que achamos justo e correto. Amsterdã troca o vestido florido por uma capa preta. A cidade que no passado fôra considerada a “capital gay”, por sua atitude liberal, regride e inflige certo medo. Depois do ataque absurdo que o americano Chris Crain sofreu na Leidseplein, pelo simples fato de caminhar na rua de mãos dadas com seu parceiro, mais três indivíduos foram agredidos na noite de sábado passado. Com a diferença de que dessa vez os agressores foram gerados dentro do ventre dessa mãe holandesa. Obviamente pode-se dizer que a ociosidade, a opressão familiar e religiosa forma a grande resposta para esses ataques.
Acredito que a complexidade de tal violência está mais radicada na psicologia complexa desses indivíduos. O gay assumido incita a voz adormecida dentro daqueles que por diversas razões não conseguem aceitar seus próprios sentimentos. E o resultado é simples; violento o quê em mim é latente!
Os homossexuais sempre foram perseguidos, julgados e considerados uma minoria. Depois de muita luta contra os abusos aos direitos humanos conseguimos uma ampla e vitoriosa plataforma. Mas ainda há países que proibem, encarceram e matam aqueles que se atrevem na proclamação de sua sexualidade. Mulheres também são oprimidas, impossibilitadas de uma presença mais valiosa na sociedade em que vivem e, brutalmente violentadas. Onde está a resposta para tudo isso? Na religião, no sexismo, no eterno poder da masculinidade? No desconforto social de cada país?
Nesta semana um grande número de homossexuais e simpatizantes, como dizem no Brasil, se reuniu para uma manifestação na Leidseplein. Um ato contra toda brutalidade que no momento invade a cidade que um dia fôra a mega gay da Europa. O beijo e o abraço foi o gesto mais forte entre todos que ali estavam. E mesmo diante de tal mentalidade regressora, iremos sempre marcar nossa presença, como a própria vida deve ser: simples e bonita!
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