OS DOIS LADOS DA MOEDA
Sérgio Godoy
Aqui na Holanda sempre se mantem a expectativa de um verdadeiro verão. Ainda que não seja o mesmo verão da Itália, Espanha e Portugal, aguarda-se com esperança de que o mês mais quente do ano – agosto – traga dias ensolarados, passeios de barco e muito sorvete.
Para a frustração de muitos, o verão do ano de 2005 vai terminando com pequenas reminiscências de sol. A notícia nos jornais traz a devastação do fogo nas áreas mais frágeis e áridas de Portugal.
Um cartão-postal chega até a minha porta: um amigo está de férias na Sardenha. O sol brilha, a praia convida e ele faz um pequeno desenho como assinatura; uma carinha feliz.
As ruas de Amsterdã aguardam por mais de uma semana uma própria limpeza; os coletores de lixo estão em greve. No fim da tarde os turistas se escondem da chuva e do céu escuro. Já não reclamam do mau tempo mas sim do alto preço cobrado nos bares, restaurantes e hotéis. Um café custa 2,50 Euros, duas fatias de pão com queijo e presunto, 4,50 , um jantar simples, 25. Assim segue: Amsterdã ficou muito cara! O serviço é lento e em muitos locais o atendimento é feito por alguém de mau-humor, distante, onde o sorriso se esconde atrás da fachada holandesa.
Para quem chega na Europa pela primeira vez há o encantamento sempre esperado. O mapa salta da mala e os planos começam a ser realizados. São vários países, fronteiras ao alcance de todos, história...
A verdade é, a Europa caiu em decadência abrindo as janelas do grande problema econômico que divide-se com o resto do mundo. Na Holanda o descontentamento com o governo, desemprego e atitudes sociais está levando o holandês a emigrar para outros países à procura de “dias melhores”. A Nova Zelândia é o país mais procurado por eles por necessitar de mão de obra profissional em vários campos. Muitos jovens trocaram Amsterdam por Dublin onde a oferta de trabalho é convidativa e não é necessário ter um grande currículo; apenas falar duas línguas, o holandês e inglês.
Os brasileiros que sonhavam chegar aqui, passar um tempo e voltar para o Brasil com o bolso tocando o sino da prosperidade, deram de cara com um mundo totalmente diferente daquilo que imaginavam.
Eu, por minha vez, continuo e reclamo, reclamo e continuo, onde muitas vezes a vontade de retornar ao Brasil invade meus neurônios com muita persistência . Mas voltar para aonde e o quê fazer? E essa dúvida, essa mesma pergunta, ouço por todos os lados; entre um brasileiro e outro, entre o consciente e o inconsciente de cada um de nós!
Comente aqui: