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Susana Alves-Jas nasceu no Rio Grande do Sul, na região da Serra, Licenciada em História e Pós-Graduada em História da América Latina pela Universidade de Caxias do Sul.Gosta de música, passear, fotografia, de estar com a família, AMA animais e conhecer novas culturas.

 

BRASILEIROS NO EXTERIOR:  SEMPRE AMIGOS ?

 Susana Jas

 

Quando fui convidada pela dona deste site, a participar de uma coluna daqui, fiquei lisonjeada.  Meu limitado conhecimento desta terra e deste povo (e do meu povo) poderá deixar meu escrito a desejar.

E, como fui apenas uma Professora de História, nenhuma Socióloga e pesquisadora científica, vou escrever baseada em minhas observações e conclusões empíricas... no fundo, tudo dedução mesmo.

Fico observando, às vezes, e me pergunto qual seria a razão pela qual o(a)s brasileiro(a)s mudam tanto de comportamento quando vêm para o exterior ?!  (Ou será que sempre foram assim e a gente nunca percebeu ????)

Por que acabam se tornando um grupo nem sempre unido, competitivo e quase às beiras da inimizade ? (Isto não é uma generalização. Aliás, esse comentário abriga exceções).

Por que é tão difícil aprofundar uma amizade com um conterrâneo ?

O motivo da vinda exerce alguma influência na forma como as pessoas se comportam aqui ?

Eu, antes de receber o visto para poder vir para cá, já estava pesquisando se haveriam mais brasileiros nos arredores da cidade para onde eu viria.  Eu mantinha contato com uma conterrânea que mora há seis anos na Bélgica e ela me disse:   “Susana,  mantenha distância de brasileiros, ou , tenha muito cuidado.  Eles podem ser os piores tipos que você pode encontrar.  Puxam-lhe o tapete se puderem.”

Imaginem-se às vésperas de mudarem sua vida totalmente, de irem para o outro lado do Oceano, e... ouvirem um conselho desses !!!

No momento, fiquei duvidosa, mas, preferi ficar na espreita e tirar minhas conclusões.  Na verdade, já tive uma experiência negativa com uma brasileira, que me fez recuar  e pensar duas vezes antes de abrir a guarda tão fácil. Vi nela o descaso, a prepotência de quem acha que sabe tudo porque está aqui a mais tempo, e uma extrema falta de solidariedade num momento que eu muito precisei.

Já percebi brasileiro(a)s se evitando.

Já soube de brasileiro(a)s que esculacham o Brasil dizendo que este,não lhes deu nada.

Já soube de brasileiro(a)s que fingem não falar o português quando sabem de um conterrâneo por perto.

Já percebi alguns brasileiros com inveja dos conterrâneos que já conseguiram se estabelecer...  Sim, porque é difícil reestruturar a vida aqui, num país que tem belezas e benefícios, sim;  mas, com muitos “poréns”.

Muitos conterrâneos se queixam do povo daqui ser fechado e de difíceis amizades... mas, e os brasileiros ????  Famosos pela hospitalidade, carisma, simpatia, solidariedade ??? 

Quantos brasileiros deixam de dividir com outros brasileiros, oportunidades de emprego e aperfeiçoamento do idioma ???

Sem falar nos que insistem em comparar a escola daqui com as do Brasil, o comportamenteo daqui com o do Brasil, o governo daqui com o de lá... e por aí afora.

São realidades, histórias, culturas e TAMANHOS territoriais diferentes.  Não há termo para comparação, definitivamente. 

Será que tornamo-nos "diferentes", uma vez aqui, porque  absorvemos o stress daqui e acabamos vendo o outro como um oponente em potencial em TUDO ???

Será que é o desejo de apagar o Livro da Vida até aqui e fazer de conta que nunca houve problemas ou máculas no caminho e   começar do zero ?  Sim, neste caso, brasileiro nos arredores pode representar ameaça   !

Acho um pouco cruel dizer que o Brasil não nos deu nada. Infelizmente, as oportunidades não são as mesmas para todos, vamos admitir. Mas, daí a dizer que o país não deu nada ?  Quando ouço isso, fico imaginando criaturas analfabetas, sem experiência profissional , sem nenhum conhecimento de internet (que lhes propiciou talvez, conhecer o parceiro) e sem raízes afetivas de qualquer espécie...  uns seres errantes postos neste pedaço do mapa. 

Eu, por exemplo, agradeço a educação/formação que trouxe de lá,  a minha experiência profissional (mesmo as mais simples), os meus parentes e amigos.  Todos eles fazem parte da minha história começada no Brasil.  O país está em crise, está em dificuldade econômica e social, mas isso, não apaga a minha experiência de vida e a bagagem que isso representa nos meus passos vindouros.

Eu não sou rica aqui e nem fui no Brasil .  Portanto, quem sou eu para reparar se o outro tem a casa assim ou assada, se tem carro ou não , se veste-se na moda ou não, se o companheiro aqui na Holanda trabalha nisso ou naquilo, se o outro conterrâneo é feio ou bonito,  se lá no Brasil fazia isso ou aquilo...

Nunca vamos conseguir recomeçar de um zero absoluto.

Somos o que somos, graças ao que vivemos até então !

Enquanto as pessoas não se conscientizarem de que, a vida aqui não é fácil também, que nada cai do céu e que os defeitos maiores ainda estão nos seres humanos e independem de localização geográfica, vai persistir esse comportamento de “fuga” e “esconde-esconde” de si mesmo.

 

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