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Susana Alves-Jas
nasceu no Rio Grande do Sul, na região da Serra, Licenciada em História e Pós-Graduada em História da América Latina pela Universidade de Caxias do Sul. Gosta de música, passear, fotografia, de estar com a família, AMA animais e conhecer novas culturas.
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QUANDO EM ROMA, FAÇA COMO OS ROMANOS

Susana Jas

 

Outro dia, assistindo um programa belga que troca famílias de ambientes culturais (uma família belga com uma família tribal africana foi o que assisti), fez-me lembrar dessa célebre frase : quando em Roma, faça como os romanos. Quem, estando fora de sua terra já não ouviu essa frase ? Eu, de tanto ouvi-la como justificativa (às vezes gente que só repete sem saber exatamente o que está dizendo) para que a gente se “molde” à nova cultura, resolvi verificar as origens dessa frase.

“Na igreja de Milão (Itália), o sábado era tido em alta consideração. Não que as igrejas do Oriente ou qualquer outra das restantes que observavam esse dia, fossem inclinadas ao judaísmo, mas elas se reuníam no sábado para adorar a Jesus, o Senhor do sábado.” “Por mais de 17 séculos a Igreja da Abissínia continuou a santificar o sábado como o dia sagrado do quarto mandamento.” “Ambrósio, famoso bispo de Milão, disse que quando ele estava em Milão, guardou o sábado, mas quando passou a morar em Roma, observou o domingo. Isso deu origem ao provérbio: ‘Quando você está em Roma, faça como Roma faz.’” (Heylyn, History of the Sabbath) A partir desse provérbio, outros vieram:  Em terra de sapos, de cócoras como eles; e outros similares.

Eu trago esse assunto à tona para dizer que concordo apenas em parte com a mensagem que o provérbio encerra.  Considerando que foi criado numa época e civilização com mania de supremacia e com idéias militaristas, não era de se esperar que pensássem o contrário:  ser bom era ser romano (romano era todo o cidadão que vivia no território italiano).  Quem fosse dominado seria subjugado e teria de “se tornar um deles”.

No mundo moderno, com globalização, informação, luta por igualdades de direitos, consciência de mundo, essa idéia não pode mais ser tomada ao pé da letra. Eu acredito na parte desse provérbio que diz respeito a conhecer e respeitar a outra cultura, também assimilando parte dela num processo natural que é a convivência.  Ou seja, querendo ou não, em algum momento vamos adquirir novos elementos da cultura onde vivemos. Isso ajuda a evitar confrontos, bloqueios, choques.
Mas, não podemos esquecer que temos nossa própria cultura, uma bagagem que não pesa nada e que nos faz representantes dela no momento em que vamos para um lugar estranho.  Não podemos agir como se fôssemos uma mera esponja sem conteúdo e que, tudo o que vem é lucro. Aculturação não é positivo.

As tradições de um povo não podem, nem devem, ser modificadas. Devemos mantê-las porque representam a identidade histórica desse povo. Mas há pontos dos hábitos e costumes que podem conviver pacificamente com outros, `as vezes fazendo uma fusão e criando novos itens culturais.

E, será que os defensores ferrenhos desse provérbio concordariam em defendê-lo e usá-lo quando se mudassem lá para uma comunidade tribal da África, por exemplo ? Viver da caça e da pesca, comer carne crua, viver nu e tomar banho de rio, participar de rituais, dormir em tendas `a mercê de animais selvagens,aprender um idioma que só o som já trava a língua ...??

É fácil “fazer como os romanos” quando se está no conforto e no progresso.  No caso contrário, os romanos somos nós, e os outros que se aculturem.

Não é assim que tem funcionado ?

 

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