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Susana Alves-Jas
nasceu no Rio Grande do Sul, na região da Serra, Licenciada em História e Pós-Graduada em História da América Latina pela Universidade de Caxias do Sul. Gosta de música, passear, fotografia, de estar com a família, AMA animais e conhecer novas culturas.
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MUITO OBRIGADA DONA (Y)HOLANDA !

Susana Jas

 

Num desses encartes do jornal de fim-de-semana do Het Parool, foi motivo de capa uma família marroquina (Mzallassi), cujo casal tem 10 filhos e TODOS bem-sucedidos. O pai em alguns momentos da vida teve dois empregos para manter a família (incluindo faxina). Uma filha é médica, outra engenheira, outra gerente de área financeira, outro estudando para ser dentista, etc... (não tenho mais a reportagem, portanto, como não lembro detalhes, não vou citar mais para não cometer enganos).

Ao que tudo indica a filha mais velha está com cerca de 38 anos, e o casal deve estar aqui na Holanda há pelo menos 20 anos. O reporter indaga a razão dessa família estar unida e os filhos bem-sucedidos.  A mãe, humildemente diz que é questão de sorte.  Uma das filhas diz: “Não foi sorte. É o resultado de um trabalho árduo.”

No mesmo jornal (Het Parool) desta semana, vejo os comentários dos leitores acerca do artigo.  Uma pessoa diz literalmente o seguinte:
“No artigo os filhos citam o trabalho árduo como a razão do sucesso dessa família. Eu acho que eles estão esquecendo que a sociedade holandesa também concedeu  uma importantíssima parcela.”

C.van Rutte – Amstelveen

Fico perguntando se um(a) leitor(a) assim, nunca teve nenhum contato com o mundo fora daqui da Holanda (se é que sabem que existe vida além dessas fronteiras). Será que a vida, para essas pessoas, gira apenas em torno de seu próprio umbigo ? O que será que tentam passar com um comentário desses ? Bem sucedidos, devem agradecer à Holanda. E, por favor, que citem em letras garrafais ! Mal-sucedidos ou estacionados, devem culpar a si próprios ou a “pobreza” de onde vieram.

Com certeza, as oportunidades oferecidas por este país são muito importantes. Quem não sabe disso ? Mas, sem o mérito pessoal de “fazer do limão, uma limonada”, mil oportunidades seriam em vão.  Tanto que, há muitas famílias holandesas nem tão bem-sucedidas.  Por que então ? As oportunidades estão aí !!! Não são elas que resolvem o problema ?

Essa família marroquina é um grande exemplo sim. E tocou bem no ponto fraco dos holandeses:  a união em família e pelos filhos.  Aqui, é comum “tocarem” os filhos porta afora bem cedo, sob o pretexto de que devem viver sua “independência”. Concordo em gênero e número com desenvolver a independência, mas ela precisa ser estruturada DENTRO da família, senão, muitas vezes oferece descaminhos. Sinceramente, acho que os holandeses não são os melhores referenciais de família que existem.  Questões culturais? Pode ser.  Opinião pessoal?  Idem.

A questão da discriminação aos imigrantes permeia comentários como o desse leitor, onde uma sociedade ainda imbuída de conceitos colonialistas, ainda acha que só aqui há vida e estrutura. Os bons valores morais, somados às oportunidades, podem fazer com que qualquer família seja bem-sucedida em qualquer quadrante desse mundo de Deus. A Holanda não é nenhuma exclusividade, e, só deve ser enaltecida por estar cumprindo bem sua obrigação de pátria que olha pelos cidadãos que estão aqui. O leitor que comentou, com certeza não entendeu o que a família quis dizer com “trabalho árduo”: que justamente sem esse elemento, as oportunidades não frutificam.

Enquanto esse sentimento de superioridade existir, a discriminação vai continuar encontrando solo fértil e, teremos de continuar gratos à Dona (Y)Holanda por nos “salvar” das garras intrépidas  do Terceiro Mundo.

 

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