TODA AMBIÇÃO SERÁ CASTIGADA *
Susana Jas
*(Alusão ao título Toda nudez será castigada , peça teatral escrita por Nelson Rodrigues em 1965)
Morar no exterior e, principalmente, ficar muito tempo sem ter voltado para o Brasil, fez-me rever e reciclar uma série de conceitos.
Um deles é referente à ambição.
Nunca estivemos tão expostos, tão suscetíveis quanto no período de adaptação aqui. Digo isso porque é o momento crucial para entendimento e aceitação dos valores locais em confronto ou acordo com os nossos.
À parte todos os detalhes da adaptação, quero me deter na ambição.
Nós normalmente nos limitamos ao conceito do dicionário (Ambição é o desejo forte de fortuna, de glória, de honrarias, de poder ou de outra coisa qualquer, dependendo do contexto).
Num contexto mais amplo e mais moderno, ambição também pode significar motivação. O desejo de não só obter algo, mas também de realizar algo.
Nesse ponto deparo com o preconceito que existe em relação à idade no trabalho. Muitas empresas usam o argumento que, a pessoa que avançou na idade não tem mais ambição.
Discordo totalmente. Salvo as exceções, as ambições mudam, como mudam nossos objetivos de vida. Hoje, vejo-me com uma ambição diferente da de um jovem de 25 anos, por exemplo. Minha ambição não é desenfreada. É consciente, baseada na minha capacidade, vontade de aprender e minhas limitações (as quais, todo mundo tem).
Outro ponto, é a forma como os outros vêem nossa ambição.
Tudo bem, a opinião dos outros não enche barriga de ninguém, mas, dá pano para manga numa discussão.
Por que para alguns brasileiros que estão aqui, lutar pelo trabalho que desejam, no posto que desejam alcançar, com o salário sonhado, é elogiado como louvável ambição; mas, por outro lado, para outros é considerado um luxo ou fricote de uma pessoa que exige demais ?
Eu já tive de ouvir que não tenho emprego ainda porque não quero, porque “quem quer trabalhar pega qualquer coisa”.
Discordo de novo.
Ambição e necessidade não são a mesma coisa. Não estou buscando um emprego por esporte ou por somente realização. Mas, tambem porque o dinheiro advindo dele, vai me trazer confortos e facilidades. Tenho portanto uma necessidade e uma ambição.
Tenho a sorte de poder dar prioridade à ambição e procurar por um emprego ao mesmo nível da minha experiência e conhecimento. Se eu estivesse em situação difícil, meu filho passando fome, sem roupa, sem nada, eu estaria em necessidade apenas. Não poderia, num caso assim, nem pensar em ambicionar nada com o trabalho.
Coloquemos, portanto, os pingos nos i(s).
Todos temos necessidades e ambições. Ninguém , a não ser nós mesmos, pode saber qual merece prioridade.
Ou como diriam em inglês: “Walk a mile in my shoes” ** antes de dizer qualquer coisa.
** Ande uma milha dentro dos meus sapatos, (linguagem figurada para expressar que, somente cada um sabe das suas necessidades, ou, onde lhe aperta o sapato.)
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