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Raimer Rodrigues Rezende é mineiro de Belo-Horizonte estudou Antropologia – bacharelado - na Universidade de Amsterdã – UVA, e agora faz um mestrado de dois anos em Políticas Ambientais "Sustainable Development: Environmental Policy and Management" na Universidade de Utrecht.

 

Estudante brasileiro dá exemplo de ecologia e sustentabilidade

Texto & foto: Raimer R. Rezende

 

Davi Rodrigo Rossatto é estudante de doutorado do departamento de ecologia da Universidade de Brasília. Ele está convencido de que o clima do planeta está mudando devido à ação do homem e alerta que se não mudarmos nossos hábitos, as conseqüências serão graves.

 

Davi nasceu em Marília, cidade de aproximadamente duzentos mil habitantes no interior de São Paulo. Ele graduou em biologia na Universidade Estadual Paulista (UNESP) em 2005 e recentemente terminou seu mestrado na Universidade de Brasília sobre “adaptações funcionais das plantas de cerrado ao seu ambiente”. Acabando seu mestrado, ele continuou na UNB fazendo doutorado sobre o mesmo tema.

Fascinado pela riqueza do cerrado brasileiro ele enfatiza a sua importância: ‘As pessoas falam muito sobre a Amazônia e se esquecem do cerrado, que é de extrema importância e que está até mais ameaçado’. Mas apesar de suas pesquisas se concentrarem no cerrado brasileiro, suas preocupações vão além. O foco da nossa conversa foi as mudanças climáticas.

Mudanças climáticas
Davi não só acredita que o clima está mudando por conseqüência da ação do homem, como afirma que já mudou. Segundo ele, tanto os trabalhos científicos como sua própria experiência apontam para essa mesma inegável conclusão. Ele compara o clima da sua cidade de quando ele era pequeno e de hoje: “Agora há anos com muito mais chuva do que o normal ou com uma seca muito mais prolongada. Há frequentemente temperaturas muito altas ou muito baixas e houve um grande aumento na incidência de tempestades”. Conversando com avós e bisavós da sua cidade natal que trabalham ou trabalhavam com agricultura, Davi ouve que o tempo há quarenta anos atrás era muito mais estável e previsível do que hoje. “Nós que moramos na cidade às vezes temos menos essa percepção, mas pra eles que trabalham no campo, essas mudanças são claras.”

De acordo com Davi, não resta dúvida de que essas mudanças são conseqüências da interferência do homem na natureza. “Compreendo que existem ciclos normais da terra, que esquenta e esfria, mas não tão rápidos, como essas mudanças que estão ocorrendo em menos de 100 anos. Além do mais, está comprovado que a atual concentração de carbono na atmosfera não é normal”. Segundo ele, a alta concetração de CO2 na atmosfera e as consequentes mudanças climáticas são causadas pelo uso exagerado dos recursos naturais pelo homem. Isso é devido à vários fatores como o crescimento populacional, o desenvolvimento da indústria e a agricultura de monocultura, assim como o uso errático de recursos.

Maior responsabilidade dos países ricos
Para Davi, a responsabilidade é de todos, mas uns tem mais responsabilidade que outros, principalmente os países mais ricos, onde está a maior parte das indústrias e do consumo. “Eles estão tomando consciência disso, de que há um problema e de que têm que mudar, mas estão com uma tendência a exportar o problema ao invés de resolvê-lo”.

A crítica se refere à transferência de indústrias poluentes para países em desenvolvimento sem exportar junto a preocupação com padrões ambientais e sociais que existe nos países ricos. Os países mais pobres aceitam a instalação da indústria e concedem benefícios, como a isenção de impostos, porque necessitam da criação de renda e empregos. A indústria por sua vez explora a mão de obra barata e leis trabalhistas e ambientais mais flexíveis ou até o fácil descumprimento das mesmas. É responsabilidade da população dos países ricos consumirem de maneira mais correta, sabendo a proveniência dos produtos e os impactos no país produtor.

Além disso, devem cobrar de seus políticos que promovam o desenvolvimento de sua indústria de uma maneira sustentável e não exportando o problema e explorando países mais vulneráveis. “Não adianta eles conservarem a natureza deles e destruírem a nossa, nos países em desenvolvimento.”

O que fazer? Há esperança?
Para Davi, o mais importante é que as pessoas se conscientizem e mudem seus hábitos. Mas ele confessa que no mundo atual é muito difícil levar uma vida ‘sustentável’, principalmente devido à pressão da sociedade de consumo. Mas apesar do quadro negativo que expõe, ele se mantêm otimista: “A gente sempre tem que ter esperança e trabalhar para modificar a realidade.” No seu dia a dia, ele dá o exemplo. Apesar de ter carro, Davi procura ao máximo andar à pé e utilizar transporte público, procura não pegar saco plástico no supermercado, levando consigo a própria sacola, compra sempre que pode produtos recicláveis, faz separação de lixo e tenta não comprar o desnecessário.

Há alguns anos atrás, muitos o chamariam de neurótico ou “metido a hippie”, mas cada vez mais pessoas parecem estar mudando de atitude. Muitas pessoas do círculo de amizades de Davi adotam a mesma postura que ele, se preocupando com o futuro e com o que vai ser dos recursos naturais do planeta. Se mais pessoas pensarem como eles, talvez possamos reverter o quadro e Davi possa contar para seus netos que um dia tivemos um problema de mudanças climáticas.

Esta entrevista foi feita em uma visita à Universidade de Brasília durante uma viagem organizada pelo ICCO (como parte de sua campanha Fair Climate). Para mais informações sobre a viagem e a campanha Fair Climate: www.fairclimate.nl
- Campanha holandesa sobre mudanças climáticas...
- Indígenas sofrem com desmatamento
Contato com Davi: drrossatto@unb.br

05/10/2008       

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